Os orixás se erguem numa guerra contra o Panteão dos deuses gregos; um Casanova bon vivant se gaba da própria liberdade e desfila pela Zona Sul do Rio, mas no fundo vive submisso à fortuna e à personalidade dominadora de uma dama da elite carioca; uma moradora reprimida de um bairro pacato passa por uma reviravolta tragicômica que transforma seu cotidiano medíocre; uma balzaquiana se arma de suas fantasias para criar um universo fantástico na floresta, longe do centro urbano; um casal desencontrado se lança a uma aventura em Paraty-Mirim e nas Sete Quedas do Iguaçu; outros personagens se arriscam em cidades da Europa, vivendo aventuras insólitas e fantasiosas, deslocadas no tempo e no espaço; tudo parece concorrer para o fim do mundo.

É com tais enredos e personagens que Luiza Lobo propõe uma atmosfera que se insurge contra o bom senso e o lugar comum, num universo em constante transformação, que ora traz à tona o trágico da existência, ora o desconstrói, com seu peculiar tom de crítica e humor.

Esta seleta de contos ilustra o estilo imaginário, próximo do fantástico, que caracteriza a escrita de Luiza Lobo. O humor presente nestes textos sinaliza o absurdo do cotidiano, ao modo de Lewis Carroll e André Breton, enquanto renega a existência trágica dos seus personagens, que buscam uma explicação para a vida. Esse traço humorístico e crítico empresta originalidade a sua ficção, que tanto deve a Clarice Lispector, Virginia Woolf, Jane Austen e Katherine Mansfield, entre muitas outras escritoras que Luiza Lobo estudou em suas conferências, ensaios e traduções.

Seus contos se abrem para um novo sentido, uma outra dimensão, mais profunda e mais elevada, que permite entender a sociedade pós-moderna em que vivemos.

Mas, sem incidir em melancolia nem negativismo, eles acentuam a resistência humana na vontade de lutar por uma sociedade mais justa e inclusiva.